Como cuidar das finanças da família em meio à pandemia: o que aconselham os especialistas em BC

Se as finanças e o orçamento doméstico já são, normalmente, uma preocupação rotineira, para muitas famílias os números e contas a pagar tornaram-se uma dor de cabeça adicional em meio as restrições impostas pela pandemia de COVID-19.

E não é para menos. Em dois meses, 383 mil empregos evaporaram em British Columbia, com a taxa de desemprego chegando a 11,5% em abril, a maior registrada na província desde a recessão do início dos anos 1980. Um levantamento feito pela área de economia da BC Real Estate Association constatou que 90% das perdas de postos de trabalho está no setor de Serviços; destas, metade aconteceu nos subsetores de cultura, recreação, hotelaria, alimentação e varejo.

“Minha primeira recomendação é não entrar em pânico, nem tampouco tomar qualquer decisão precipitada em relação às finanças”, adverte o experiente planejador financeiro Paulo Moulatlet, profissional certificado na província e com uma carteira de clientes na Moulatlet Financial em que cerca de 20% são integrantes da comunidade brasileira. “É hora de analisar com calma a situação financeira, estabelecer um orçamento, priorizar os gastos e avaliar as alternativas que o governo e as instituições financeiras estão oferecendo. Meu conselho é fazer uso de tudo o que for possível”, destaca.

O agente de investimentos (investment advisor) José Cid, da Ektos Financial, cuja totalidade da clientela em BC é brasileira, acrescenta: uma providência importante é calcular os gastos essenciais mensais e separar o montante suficiente para quitá-los por um ano a um ano e meio. “Proteger esse dinheiro em alguma conta de money market, como uma savings account ou high interest savings account”, recomenda.

Essenciais são aqueles gastos que não podem ser extintos – moradia, supermercado e seguros, como o de de saúde e de vida, estão entre eles. Então, se há dificuldade financeira, concentre-se neles e fique longe das tentações e sonhos de consumo, como roupas, refeições prontas, e até eletrônicos. “As pessoas estão passando mais tempo em casa diante do computador e acabam comprando por impulso”, alerta Moulatlet.

Outro gasto essencial, meios de comunicação, não devem, claro, ser suprimidos, mas há fórmulas para reduzi-los, lembra José Cid. Por exemplo, cortar da assinatura de Internet a TV a cabo e se ater ao wi-fi residencial; e/ou rever o plano de operadora de celular.

Postergar pagamentos pode ser uma boa alternativa

Para alguns dos gastos não-negociáveis, há a alternativa de suspender temporariamente os pagamentos e assim ter um alívio por um prazo que tem sido fixado pelas instituições financeiras, geralmente, de seis meses. É o caso das hipotecas (mortgage) de casa própria, da quitação de empréstimos pessoais, das property taxes (o IPTU canadense) e até mesmo alterar o seguro do carro, usando uma modalidade para carros parados, chamado de “storage insurance”.

“São alternativas recomendáveis para quem se viu subitamente em sufoco, mas é importante que fique bem esclarecido junto a cada instituição financeira quais serão os impactos futuros”, aconselha Moulatlet. “Porque não haverá perdão dos juros, a fatura será cobrada adiante, possivelmente na forma de meses adicionais ao tempo de pagamento inicialmente previsto – será preciso se planejar para isso”, observa.

No caso do seguro de automóvel, a opção para quem pagou o seguro anual antecipado é pedir o dinheiro de volta, quitar apenas um valor básico relativo a risco de roubo e incêndio, e se comprometer a deixar o carro na garagem pelo tempo do acordo. Esta negociação pode ser feita junto ao ICBC e também está aberta àqueles que fazem os pagamentos do seguro mensalmente.  

Uma dica importante, afirma Moulatlet, é evitar tomar decisões financeiras relevantes no auge da crise – como, por exemplo, vender um bem que neste momento está desvalorizado no mercado. “A pior hora para tomar uma decisao de vender é agora, porque vai representar um prejuízo. Acredite no seu investimento passado e não entre em pânico, não mude a estratégia agora. Essa crise vai passar, assim como a de 2008 veio e passou”, afirma. “O mercado é muito volátil a mudanças e nem a ciência sabe quando será o final da pandemia.”

Mas quem já possui investimentos e está mantendo, durante este momento de incertezas, a orientação de um especialista, pode até mesmo se beneficiar financeiramente. Afinal, afirma José Cid, repetindo a lição chinesa, crise pode ser sinônimo de oportunidade. “Tenho clientes que estão investindo nas coisas certas para o momento e que chegam a obter 20% de rendimento”, garante. “Mas é um território em que não existe one size fits all. É preciso avaliar as opções que se aplicam, em cada momento, a cada perfil de investidor”, frisa.

Outra dica importante, afirma José Cid, é manter os pensamentos positivos. “Embora as pessoas não associem, manter a mente sadia é imperativo para manter as finanças saudáveis”, afirma. “Evitar pensamentos negativos e debates acalorados que não levam a nada, no lugar disso, procure aprender coisas novas. Quem está ansioso come demais, compra mais, e acaba gastando demais”, assinala. 

Confira algumas das opções de suporte governamental

Há diversos auxílios governamentais que podem e devem ser acessados por residentes permanentes, e essas ajudas vêm tanto do governo nacional como do governo provincial. A mais significativa é o Canada Emergency Response Benefit (CERB), que incorporou o Employment Insurance (E.I.). São dois mil dólares a cada quatro semanas, para quem teve a renda regular alterada pela pandemia. O auxílio tem sido rapidamente concedido a todos os que o solicitam online declarando atender aos requisitos. Mas, atenção: o governo avisa que, após a pandemia, as requisições serão auditadas, o que significa que solicitações indevidas serão penalizadas.     

Cumulativamente, todos os que qualificam para o Canada Emergency Responde Benefit (CERB) são elegíveis ao B.C. Emergency Benefit for Workers, uma ajuda de mil dólares, em parcela única, a quem teve sua capacidade para o trabalho deprimida pela Covid-19. A requisição também pode ser encaminhada pelo site, bastando ter em mãos o SIN number, dados de transferência bancária e a aprovação de recebimento do CERB.

Os estudantes pós-secundários e recém graduados podem recorrer ao Support for Students and Recent Graduates Impacted by COVID-19, por meio do qual está sendo oferecido o Canada Emergency Student Benefit (CESB). O auxílio socorre aqueles estudantes que não são elegíveis para o CERB nem para o E.I., mas que estão tendo dificuldade de encontrar vagas de trabalho em tempo integral ou ficaram impossibilitados de trabalhar por causa da pandemia. O CESB, a ser pago até agosto deste ano, é de $1,250 mensais; estudantes que possuem dependentes ou são portadores de deficiências têm direito a receber $1,750 mensalmente.

Outros auxílios disponíveis incluem:

• Covid-19 Relief Fund (Eletricidade): a BC Hydro, empresa responsavel pela distribuição de energia elétrica da província, deu 3 meses de crédito na conta de clientes, a depender do nível de consumo. Isso significa três meses de suspensão de pagamento da energia elétrica residencial, sem cobrança futura do abono.
• COVID-19 and Tenancies (Aluguéis): a província de British Columbia fez alterações na lei que regula os contratos de aluguel para incluir novas obrigações aos proprietários e alguns auxílios, incluisve financeiros, para locatários durante a pandemia.
• Property taxes (IPTU canadense): para aqueles que são proprietários, o governo de Vancouver empurrou a data de pagamento do imposto sobre imóvel residencial para 30 de setembro (no lugar de 02 de julho).
• Canada Child Benefit (Crianças): aqueles que já recebem o benefício passam a embolsar um valor adicional de $300 por criança, depositados automaticamente.
• Veja a lista detalhada de benefícios disponíveis e links para os respectivos sites do governo nesta página do Jornal Brasil Vancouver.

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