Exclusivo: Cônsul do Brasil fala sobre os planos de sua gestão em Vancouver

Crédito: Divulgação/Twitter (X)

Na primeira de uma série de três entrevistas exclusivas para o Jornal Brasil Vancouver, Nestor Forster Jr, Cônsul-Geral do Brasil em Vancouver desde o último outono, se dirige à comunidade e aborda temas como serviços consulares, relação do Brasil com o Oeste canadense, estudantes internacionais e os desafios do Consulado na região.

Leia, na íntegra, a primeira entrevista com o Embaixador* Forster:

JORNAL BRASIL VANCOUVER: Embaixador, o senhor poderia nos contar brevemente sobre sua história e carreira?

NESTOR FORSTER: Comecei a cursar o Instituto Rio Branco em fevereiro de 1985. São, portanto, 39 anos de Itamaraty. Comecei a trabalhar na área consular, na qual passei anos formativos. Depois trabalhei quase dois anos na Presidência da República, onde tive oportunidade de liderar a criação do “Manual de Redação da PR”, que está em uso pela administração federal até hoje.  Depois servi na Embaixada em Washington, onde cuidei dos temas comerciais e da relação do Brasil e do Mercosul com os EUA e o então NAFTA.

“Comecei a cursar o Instituto Rio Branco em 1985. São 39 anos de Itamaraty”.

De lá fui para nossa Embaixada em Ottawa, onde chefiei o Setor Econômico, e depois para a Costa Rica, onde fiz um pouco de tudo. Depois de um período em Brasília, voltei a Washington, onde chefiei o setor financeiro, cuidando da relação com Wall St. e também com as instituições financeiras com sede em DC, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional.

Foi então que cuidei da instalação do Consulado-Geral em Hartford, em Connecticut, onde passei três anos. Em mais um retorno a Brasília, chefiei a área de informática do Itamaraty. Depois disso passei um período no Consulado-Geral em Nova York, antes de nova missão na Embaixada em Washington, tendo sido designado embaixador nos EUA em novembro de 2019.

Foi um período muito rico, no qual negociamos acordos comerciais e de defesa. O Brasil foi o primeiro país latino-americano a juntar-se ao Projeto Ártemis de exploração espacial. Ampliamos ainda nossa cooperação nas áreas de ciência e tecnologia, educação e saúde. Permaneci na capital americana até o final de março de 2023, quando fui designado para Vancouver.

JBV: Por que o senhor aceitou chefiar o posto de Vancouver?

Tenho gosto pelo trabalho consular, no qual iniciei minha carreira. Aprendi, com a experiência que obtive em diferentes consulados ao longo dos anos, que a atividade consular é a face externa da diplomacia, pois nos permite um contato mais direto e intenso com as comunidades brasileiras no exterior.

Neste trabalho, muitas vezes somos chamados a cuidar de questões que só o consulado pode resolver, como fornecer um documento de viagem ou assegurar a nacionalidade brasileira a nossos compatriotas.

JBV: Quais são seus principais objetivos e aspirações ao assumir o Consulado em Vancouver?

Nossa prioridade número um é o bom atendimento consular da comunidade brasileira residente em nossa jurisdição, que abrange British Columbia, Alberta, Saskatchewan, Yukon e os Territórios do Noroeste. Além disso, temos no Consulado um Setor de Promoção Comercial e Investimentos, um Setor de Ciência, Tecnologia e Inovação, e um Setor Cultural e Educacional.

“pretendemos  aprofundar o relacionamento com o Oeste do Canadá, não só com os governos locais, mas também com o setor privado, as universidades e institutos de pesquisa”.

Para estes setores o que pretendemos é aprofundar o relacionamento com o Oeste do Canadá, não só com os governos locais, mas também com o setor privado, as universidades e institutos de pesquisa.

JBV: E quais são os principais desafios?

Fora da área estritamente consular, nossa agenda é bastante ampla e traz desafios importantes. Por exemplo, nossa relação com o Oeste canadense certamente se beneficiaria se pudéssemos contar com conexões aéreas diretas com o Brasil.

Gostaríamos também de emprestar nossa contribuição à diversificação e ampliação do comércio e investimentos entre nossos dois países.

Mais de 60% das importações brasileiras do Canadá são de fertilizantes produzidos em nossa jurisdição, sobretudo em Alberta, e mais da metade das importações canadenses do Brasil são de matérias primas, de alguns poucos minerais. Parece haver espaço para crescimento e diversificação.

“Nossa relação com o Oeste canadense certamente se beneficiaria se pudéssemos contar com conexões aéreas diretas com o Brasil”.

JBV: Na sua visão, o que o imigrante brasileiro em Vancouver deve esperar do seu Consulado, além de passaportes e documentos em geral?

A equipe do Consulado está totalmente dedicada a prestar os seus serviços da melhor forma possível, os registros de nascimento, os passaportes, as autorizações de viagem para menores, as procurações, os demais atos notariais.

A gente tende a ver essas atividades como rotina, mas é uma rotina fundamental para a vida dos brasileiros que moram em nossa jurisdição. Por isso insisto no foco no trabalho consular de qualidade.

Além disso, há naturalmente uma ampla gama de atividades em conjunto com a comunidade, seja na orientação a estudantes, a imigrantes recém-chegados e a novos empreendedores, seja na promoção da língua portuguesa e da cultura brasileira.

JBV: As faculdades e universidades possuem um número muito grande de estudantes brasileiros na Metro Vancouver. O senhor teria uma estimativa de quantos brasileiros estão estudando na Lower Mainland neste momento?

“British Columbia é a segunda província canadense que acolhe maior número de estudantes estrangeiros (164 mil)”.

Há dificuldade em se conhecer o número exato de estudantes brasileiros matriculados em instituições de ensino de Metro Vancouver. O que sabemos é que, com o fim da pandemia, houve expressivo aumento desse número nos dois últimos anos.

De acordo com dados da “Immigration, Refugees and Citizenship Canada”(IRCC), o Brasil ocupou, em dezembro de 2022, pela primeira vez, o décimo lugar na lista de países com maior população estudantil no Canadá, com um total aproximado de 19,460 “study permits” concedidos pelas autoridades canadenses.

British Columbia é a segunda província canadense que acolhe maior número de estudantes estrangeiros (164 mil) e, a partir desse dado, é possível supor que parte significativa de brasileiros que vem estudar no Canadá tenha escolhido a Metro Vancouver como destino.

JBV: Que tipo de suporte o Consulado disponibiliza aos estudantes brasileiros? 

“O Consulado-Geral em Vancouver está à disposição dos estudantes brasileiros para prestar-lhes os serviços de que necessitem”.

O Consulado-Geral em Vancouver está à disposição dos estudantes brasileiros para prestar-lhes os serviços de que necessitem.

O Consulado oferece todo o repertório de serviços consulares aos brasileiros de sua jurisdição, inclusive aos estudantes, além de assistência emergencial a todo cidadão que venha precisar do apoio consular em caso de extravio de passaportes, ocorrências policiais, detenção, entre outras situações.

Está pronto a atender, portanto, a população estudantil brasileira do oeste canadense prestando-lhe o pertinente institucional.

Visto o elevado número de brasileiros matriculados nas instituições de ensino em BC, o Consulado tem em pauta buscar desenvolver algum relacionamento com as faculdades (colleges) e universidades da região?

O Consulado já possui laços com várias instituições de ensino, certamente com os dois centros universitários de maior porte de British Columbia: a University of British Columbia (UBC) e a Simon Fraser University (SFU).

Com a SFU, assinei, em 11 de dezembro passado (2023), o Memorando de Entendimento entre o Brasil e a universidade para estabelecimento do Programa de Leitorado Guimarães Rosa no Departamento de Culturas e Línguas Estrangeiras.  O curso na SFU será ministrado por professora brasileira, especialmente escolhida pela CAPES/CNPq para essa função.

Já tivemos, em etapa anterior à pandemia, leitorado semelhante na UBC, e estamos em contato com aquela universidade para viabilizar a apresentação de artistas brasileiros e cursos de música brasileira.

JBV: Quando o senhor finalizar sua missão em Vancouver, por qual projeto gostaria de ser lembrado? Qual o legado que gostaria de deixar?

“Se for possível manter a boa qualidade do atendimento aos brasileiros e a boa relação com a nossa comunidade, sairei daqui com a sensação de dever cumprido”.

Essa é fácil: que o Brasil seja o campeão da Copa do Mundo de 2026!

À parte isso, se for possível manter a boa qualidade do atendimento aos brasileiros que procuram o Consulado e a boa relação com a nossa comunidade de maneira geral, sairei daqui com a sensação de dever cumprido.

*Vale notar que a categoria de ”Embaixador” é o topo da carreira diplomática, pelo que os diplomatas que a alcançam são designados como “embaixadores” mesmo que não ocupem funções de chefia de uma missão diplomática em um país estrangeiro. (fonte: Portal Dimplomático)

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