Os desafios da pandemia para a saúde mental: quando é a hora de buscar (e onde encontrar) ajuda em BC

O sofrimento psíquico é potencializado pelo isolamento social imposto pela pandemia da COVID-19, mesmo estando British Columbia em uma situação privilegiada com relação ao número de casos.

Falta de perspectiva profissional, medo da morte, receio de perder as pessoas que ama, sensação de imprevisibilidade. Estes são os sentimentos negativos mais frequentes reportados entre os pacientes que procuram atualmente a psicóloga e psicanalista brasileira Flavia Braunstein Markman, que atende em seu consultório clínico em Downtown Vancouver e atualmente mantém suas sessões online devido a pandemia do novo coronavírus. Metade dos pacientes de Flavia são brasileiros.

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Crédito: Jude Beck

O sofrimento psíquico é potencializado, claro, pelo isolamento social imposto pela pandemia da COVID-19, mesmo estando British Columbia em uma situação privilegiada – e não apenas em relação a outros países, mas também na comparação com outras províncias do Canadá, segundo os números de casos divulgados diariamente pelo governo.

“Meu primeiro movimento em direção à pessoa em sofrimento é confrontá-la com a realidade: aquele pensamento negativo está baseado em fatos ou é a construção do seu medo?”, coloca a psicóloga e psicanalista. “É um tipo de sentimento que apareceu agora, ou é recorrente em situações de frustração ao longo de sua vida? Então eu vou desconstruir aquilo e chegar na realidade”, explica. “É como tirar alguém, primeiro, de um estado de pânico para depois trazer de volta seu controle pessoal”, conclui Flavia.

Mesmo sem um levantamento estatístico para nos embasar, é provavelmente seguro afirmar que, ao menos em Vancouver, o número de pessoas com sintomas de algum sofrimento emocional decorrente do estresse gerado pelo distanciamento social é maior que o número de pessoas infectadas pelo novo coronavirus.

“A situação aqui em Vancouver não me assusta tanto porque a gente sabe que está controlada, mas quando penso na situação do Brasil, onde está minha família, sinto medo e desesperança”, afirma Carolina Carvalho, 42, servidora pública brasileira, que trabalha à distância. “O aprofundamento da crise econômica no Brasil também me preocupa, porque meu salário é pago em real e o dólar não para de subir”, afirma ela, que é mãe de uma bebê de oito meses que não a deixa sentir tédio. “Mas a demora para a descoberta de uma vacina me dá muito medo”, admite.

Os cinco sintomas que devem servir como alerta

A psicóloga especializada em trauma Shauna Springer, que trabalhou durante uma década com veteranos de guerra afetados por desordem de estresse pós-traumática (PTSD na sigla em inglês), afirmou em entrevista à CNN que o comportamento daqueles emocionalmente impactados pela pandemia pode ter muitas semelhanças com os portadores de PTSD.

De acordo com ela, são cinco os sintomas que devem servir como alerta de que a angústia pode ter evoluído para um quadro perigoso e é merecedora de cuidado especializado: insônia, foco obsessivo em más notícias (como mortes e recessão econômica decorrentes da pandemia), afastar-se de atividades que antes eram interessantes ou prazerosas, sentimentos de desesperança e extrema ansiedade, pensamentos suicidas.

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Crédito: Anthony Tran

O que fazer para mitigar os sintomas de angústia durante a pandemia

Se os cinco sintomas, ou algum deles, aparecer, o que fazer? Conectar-se frequentemente a pessoas queridas é imperativo para evitar o avanço da depressão, afirma ela, e para isso vale telefone, Facebook, Skype, Zoom, Facetime, etc. Respirar fundo ajuda muito – é de graça e funciona.

Lembrar-se das conquistas positivas da vida: em dias de medo, ensina ela, “escreva num caderno três coisas em sua vida pelas quais você é grato(a)”. Domine o seu estado mental abraçando apenas aquilo que você pode controlar, estabeleça uma rotina para si mesma(a), fuja das armadilhas e teorias de conspiração das redes sociais, permaneça otimista e lembre-se que sorrir é sempre um excelente remédio.     

A psicóloga brasileira Flavia Markman acrescenta: ajudar as pessoas mais vulneráveis ao novo coronavirus é outra atitude que pode fazer muito bem, tanto a quem é ajudado quanto a quem ajuda. “Minha filha tem levado refeições a idosos impossibilitados de sair de casa, e a cada visita, ela experimenta uma nova alegria”, conta.

E não esquecer de dar todo suporte que estiver a seu alcance aos profissionais de saúde em ação nos hospitais. Isolados inclusive de suas famílias, eles têm sido fortemente impactados por sentimentos de solidão, medo e angústia.

“Os aplausos diários dos moradores de Vancouver às 7:00pm não são pouca coisa: têm feito uma diferença enorme no emocional deles”, garante a psicanalista. “Eles acabam experimentando todos os dias um sentimento de ratificação do valor de sua escolha profissional, e isso lhes traz conforto. Eles se sentem cuidados e valorizados”, assegura.

Guia: onde encontrar suporte emocional durante a pandemia

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