Terremoto em Vancouver: Mitos e Realidades do “Big One”

O que é o “Big One”, o quanto devemos nos preocupar com este possível evento sísmico e quais ações de prevenção estão sendo tomadas pelo governo.

A possibilidade da ocorrência de terremotos em British Columbia, em especial o chamado “Big One” (O Gigante, em tradução livre), é uma das preocupações mais latentes para muitos imigrantes em Vancouver, principalmente os provenientes de regiões onde não existe hipótese real de ocorrer um evento onde o chão treme e objetos chacoalham dentro de casa.

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Ilustração: Tumisu

Este é o caso daqueles que chegam do Brasil, onde tremores são raramente sentidos. Os brasileiros que já vivem na Lower Mainland há mais tempo provavelmente já ouviram falar no tema, mas muitos têm dúvidas quando se trata deste assunto. Mas então, o que é exatamente este fenômeno e o quanto realmente devemos nos preocupar com ele?

As duas placas tectônicas que se encontram no Pacífico Sul do Canadá

Primeiramente, é importante saber que a linha costeira do Pacífico Sul do Canadá, onde fica toda a Metro Vancouver é, de fato, uma região que possui uma atividade sísmica bastante intensa. Na Lower Mainland a frequência de terremotos é bem maior do que em qualquer cidade brasileira, por exemplo.

A razão para isso é que debaixo do oceano, um pouco a oeste de Vancouver Island, ocorre o encontro de duas placas tectônicas. Uma delas, chamada Juan de Fuca, move-se na direção do continente e por ser mais pesada, afunda sob a outra, a placa Norte-Americana, sobre a qual temos o Canadá, os Estados Unidos e o México. Esta “subducção”, termo utilizado pelos geólogos para descrever o fenômeno, gera uma série de pequenos e constantes abalos pelas cercanias. Estes tremores são praticamente diários, ocorrendo em uma frequência média de 13 a 16 vezes por mês.

Porém como a grande maioria destes tremores são tão insignificantes ou profundos (entre 28 e 45 km de profundidade), eles não chegam sequer a ser percebidos pelos habitantes da região. Apenas como comparação, um caminhão trafegando pelas ruas é capaz de gerar um tremor bem mais perceptível do que a maioria destes abalos.

“Zona de Subducção Cascadia” (Fonte: PNSN)

Mas o que é o “Big One”? Há mesmo chances de um grande tremor acontecer?

Sim e não. Para entender melhor, vamos contemplar a seguinte analogia: imagine que fosse necessário empurrar um tronco de árvore pesado por debaixo de um outro. Ao se fazer isso, seria possível notar que o tronco de cima tremeria com a fricção. Pois estes tremores são como os vários pequenos abalos que os sismógrafos detectam frequentemente na Metro Vancouver.

Porém, ao longo do processo, é possível que em algum momento “o tronco” fique preso devido a alguma saliência na sua superfície. Seria necessário então impor mais força, até que o objeto conseguisse se soltar repentinamente com um solavanco. Este “solavanco”, se colocado na proporção da magnitude de duas placas tetônicas do planeta, é exatamente o que poderia gerar um mega tremor, daí o apelido “The Big One”.  

As boas e as más notícias

A má notícia é que esta liberação de energia, causada pelo alívio do estresse de uma placa travada sobre a outra, acontece de tempos em tempos e certamente vai ocorrer novamente. Desta forma, não é uma questão de “se”, mas de “quando” o forte abalo sísmico vai acontecer de novo. Existem provas de que sete destes mega terremotos ocorreram nesta região do Canadá nos últimos 3,500 anos, sendo o último registrado no dia 26 de janeiro de 1700. Ou seja, são 320 anos de estresse acumulado nas placas e que pode ser irrompido a qualquer momento.

A boa notícia é que as chances deste tremor acontecer hoje ou amanhã são basicamente as mesmas de ocorrer daqui a 100 ou até 500 anos. De acordo com o sistema Earthquakes Canada, o maior intervalo que os geólogos têm em registro entre um mega terremoto e outro na região é de cerca de nove séculos.

Além disso, várias ações preventivas já foram e continuam sendo tomadas pelo governo federal e, principalmente, pelo governo provincial, através do “Programa de Mitigação Sísmica de BC”, que já investiu 1.8 bilhões de dólares nesta empreitada.

Medidas de Prevenção e Educacionais

Novas regras para a estrutura de edificações são alguns dos exemplos já em vigor. Hospitais, pontes, escolas e qualquer nova construção realizada já segue esta nova cartilha. Segundo o setor de Preparação para Emergências da Universidade de British Columbia (UBC), existem hoje vários indivíduos profundamente dedicados, que buscam incansavelmente tornar nossa região cada vez mais resiliente aos efeitos de uma catástrofe geológica desta magnitude.

Desde 1990, a cidade de Vancouver constituiu um plano de redução de riscos para seus habitantes que inclui diversas ações, como por exemplo, um plano de rápida resposta e recuperação para o caso de um evento mais significativo. Em 2014, esta mesma estratégia foi aperfeiçoada, com a criação de um protocolo oficial abrangendo 12 ações primárias e mais 44 ações de suporte.

Além disso, o Ministério dos Transportes e Infraestrutura, em colaboração com o Centro de Pesquisa em Engenharia de Terremotos da UBC, desenvolveu um sistema de aviso prévio que já demonstrou ser capaz de emitir um alerta com mais de 30 segundos de antecedência a um forte abalo sísmico e faz parte do “Plano de Resposta Imediata a Terremotos em BC”.

Mapa de Risco Sísmico em BC (Fonte: Natural Resources Canada)

Em e áreas mais propensas a sofrer com os efeitos de terremotos e tsunamis, como a cidade de Tofino e outras localidades na costa oeste de Vancouver Island, as escolas primárias e secundárias mantém há anos programas educacionais sobre o tema. Através de exercícios e treinamentos regulares, alunos e pais são ensinados a se proteger e a lidar com uma situação de catástrofe natural.

Para os mais precavidos (ou mesmo preocupados), é possível adquirir o chamado “Kit de Sobrevivência Emergencial”, também conhecido como “Kit terremoto”, contendo itens e equipamentos úteis no caso de um evento emergencial. O kit pode ser facilmente encontrado para venda em diversos websites.

Seja como for, é válido para todos que vivem em British Columbia ter conhecimento sobre os fatos referentes ao “Big One” e também saber como proceder em caso de uma emergência. Mas ao mesmo tempo, não é necessário perder seu sono com o tema. Na realidade, baseado nas mudanças climáticas que atingem o planeta, é possível deduzir inclusive que outras catástrofes naturais venham a se tornar um problema real no oeste do Canadá antes mesmo do que um terremoto de grande porte.

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