Inspirada na sua própria jornada como mãe e imigrante, a brasileira Ana Santiago está lançando o livro infantil “Seja Lá ou Acolá”, com versões em inglês e português, e distribuição no Canadá, Brasil e pelo mundo afora.
Na história, duas primas, uma em cada hemisfério do planeta, constroem uma escada imaginária, que conecta as duas meninas em seus respectivos países.
Ao abordar o tema da saudade de uma forma leve e sutil, Ana ilustra temas relevantes para os brasileiros que vivem fora do país, através das duas jovens protagonistas.
“A experiência da maternidade, aliada à bagagem de quase uma década como imigrante, não apenas influenciou, mas foi essencial para a construção da história” explica a autora.
Confira abaixo o bate-papo exclusivo com a brasileira Ana Santiago e como garantir uma cópia da nova publicação.
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JORNAL BRASIL VANCOUVER: Qual é a premissa do livro “Seja Lá ou Acolá”?
ANA SANTIAGO: A história tem um quê de imaginação, suficiente para alimentar a curiosidade de qualquer criança, instigando para as experiências únicas vividas em cada hemisfério (norte e sul) e permitindo conhecer para além do ambiente em que estão inseridas.
Porém, para as crianças expatriadas – e seus primos que permanecem no país de origem – este livro vai tocar num cantinho especial do coração, onde é celebrado o amor que resiste à distância.
“Este livro celebra o amor que resiste à distância”.
No livro, você aborda o sentimento de saudades de duas primas, que vivem distantes, uma no norte e outra no sul do planeta. Como sua experiência de imigrante no Canadá influenciou no seu processo de criação da narrativa?
Acredito que a experiência da maternidade, aliada à bagagem de quase uma década como imigrante, não apenas influenciou, mas foi essencial para a construção da história. Sem esta vivência de ser mãe e também da sensação de saudade, seria impossível imaginar todas as camadas que a narrativa aborda.
Como o seu livro ajuda a criança a compreender o sentimento de saudades em decorrência da distância que separa os personagens na história?
Busquei abordar o tema da saudade de uma forma bem leve e sutil. As crianças (e adultos) se conectam com a narrativa através das personagens e suas aventuras que muito as representam. Simples assim, como acredito que a literatura infantil deve ser, sem a intenção de moralizar ou didatizar o leitor a cada página.
O que mais os pais e as crianças podem esperar desta história?
Tanto o texto quanto as ilustrações se complementam, resultando numa produção bastante rica, cheia de detalhes a serem explorados, que podem ser revisitados diversas vezes, revelando algo novo a cada leitura.
A obra foi construída com muita sensibilidade sobre as características de cada lugar, sem juízo de valor de melhor ou pior. Outro ponto que tive bastante cuidado na escrita foi de retratar as personagens sem o desejo de estarem noutro lugar.
Felizes e inteiras como as crianças são, o livro é sobre estar presente e ser/ter companhia para desfrutar as maravilhas do mundo. Neste caso, é a companhia dos primos que guia a narrativa, já que são laços eternos e genuínos, independente das circunstâncias ou distâncias. Tem amor, saudade, identidade cultural e o despertar para o desconhecido.
Entre muitas possibilidades, é também um presente em forma de história, para unir famílias que estão a quilômetros de distância.
Tive bastante cuidado em retratar as personagens sem o desejo de estarem noutro lugar.
De onde surgiu a ideia e/ou inspiração para escrever um livro infantil?
Eu sempre escrevi — e a vontade de escrever para publicar já existia há algum tempo. A inspiração veio durante a minha primeira visita ao Brasil após o nascimento da minha filha Alice.
Nos últimos dias de uma convivência intensa com a família, Iris (a prima) contou sobre um sonho que teve. Nele, ela e Alice podiam se encontrar facilmente, subindo e descendo uma escada. Lembro do entusiasmo genuíno de quem dividia a solução encontrada para a despedida que se aproximava.
Não passou despercebida a forma como ela estava elaborando este momento e guardei este sonho no meu coração. Um ano e oito meses depois, lancei de forma independente (e diria corajosa) o livro Seja Lá ou Acolá, representando todos os primos mundo afora que vivem esta história.
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“Eu tinha o sonho de escrever — e uma prima teve o sonho que me inspirou”.
Qual foi o seu maior desafio ao escrever e publicar o livro “seja lá ou acolá”?
Além de ter sido feito durante a minha licença maternidade, nos horários mais inusitados, o livro não possui vínculo com nenhuma editora.
Por isso, acredito que o maior desafio está na fase atual de divulgação e distribuição do livro. Afinal, somos mais de 4 milhões de brasileiros espalhados pelo mundo, com nossos entes queridos no Brasil se perguntando como é viver lá fora.
Então, tem muito chão para caminhar para que o livro possa ser folheado, lido e sentido — seja lá ou acolá.
Quem é a Ana Santiago? Fale um pouco de você para o leitor do Jornal Brasil Vancouver.
Nasci e cresci em Florianópolis, e me mudei para Vancouver em fevereiro de 2016. Sou formada em pedagogia, sempre envolvida com educação.
Apreciadora de um simples café passado, amo um passeio ao ar livre na companhia dos meus amigos e familiares.
Como é a sua relação com a literatura? É um hábito que tem desde pequeno ou adquiriu mais tarde?
Ainda criança, lembro que sempre que ia na “cidade”, lá em Florianópolis, eu pedia um livro para a minha mãe.
La íamos nós na saudosa Livraria e Papelaria Recorde da Rua Felipe Schmidt, onde a sessão de livros infantis ficava no segundo andar e, por isso, subíamos uma escada de madeira barulhenta. Uma coincidência, né? Não à toa as características da escada vieram parar no livro.
Esta é a memória que melhor ilustra o início da minha relação com a literatura. E eu diria da minha relação com a literatura infantil até hoje, principalmente. Passo horas lendo livros infantis em casa com o acervo da filha, em bibliotecas e livrarias, admirando e até imaginando outras versões na minha cabeça. É um universo vasto de infâncias, tempos e lugares diferentes.
Quando você chegou no Canadá? Como foi sua experiência canadense até aqui?
A minha experiência canadense começou em 2005, quando fiz intercâmbio de um mês aqui mesmo em Vancouver. Anos depois, muito bem acompanhada, voltei para uma temporada mais longa, porém sem a intenção de ficar.
Desde então, já se passaram nove anos. Na escola de inglês que estudei, comecei um estágio e logo fui contratada. Enquanto isso, fui voluntária na Oficina Curumim e, alguns cursos depois, entrei oficialmente no mercado de educação infantil, que é a minha área de formação no Brasil.
Em 2020, com novos formatos para lidar com a situação que o mundo passava, a escola onde eu trabalhava fechou as portas. Foi aí que trabalhei com programas de outreach para jovens imigrantes, sempre com foco educacional até que a maternidade bateu na porta.
A pausa necessária me fez acessar um desejo manso, mas latente, de espalhar minhas palavras escritas pelo mundo. Ainda vivendo a “pausa” da maternidade, vou lendo, escrevendo e me reinventando.
Você tem planos de escrever novos livros no futuro?
Estou trabalhando na produção do meu segundo livro infantil chamado “Mistério na Cozinha”, pelo selo Asinha, da Editora Ases da Literatura, que deve ser lançado ainda este ano.
Em que lojas na Metro Vancouver o livro está à venda? E no resto do Canadá?
O livro está à venda no Brasil, Canadá e em todo o mundo através deste site. Mais informações sobre este livro e futuras publicações estão disponíveis na minha página no Instagram.
Noite de Autógrafos:
Seja Lá ou Acolá foi lançado em setembro de 2024 e a versão em inglês “One Side or the Other” será lançada neste sábado, dia 22 de fevereiro, das 1:00 às 4:00pm, na livraria Indigo, no Shopping Metrotown, em Burnaby.
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