Academias de jiu-jitsu se multiplicam em Vancouver e atraem famílias para o esporte brasileiro

Arte marcial que leva o Brasil em seu nome, o jiu-jitsu, conhecido pelo mundo como “Brazilian Jiu-Jitsu” (BJJ), tem crescido exponencialmente na Metro Vancouver. A modalidade, que no passado foi dominada pelos chamados “bad boys”, hoje tem atraído um público mais ‘familiar’, com destaque para mulheres e crianças.

Em Vancouver, uma parcela notável de praticantes é formada por brasileiros, que buscam no tatame, além de manter a boa forma, uma ligação com sua terra natal. O Jornal Brasil Vancouver conversou com os proprietários de duas academias na cidade e colheu suas percepções sobre o crescimento do esporte e a relação das escolas de BJJ com a comunidade brasileira.  

O jiu-jitsu brasileiro, a exposição através do UFC e a chegada em BC

O jiu-jitsu é uma luta com raízes no Japão feudal e chegou ao Brasil junto com a imigração japonesa para o país no início do Século XX. No país, a luta foi adotada e adaptada pelos irmãos Carlos e Hélio Gracie. Hélio, segundo explica matéria da Editora Abril, criou sua própria técnica “baseada em alavancas – golpes que usam todo o peso do corpo (o seu e o do adversário)”. O uso de alavancas e de levar o adversário ao solo foi o valor agregado que a arte marcial adquiriu no Brasil.

Em suma, esta técnica “permite ao lado teoricamente mais fraco a possibilidade de derrotar um oponente maior”. E foi este nivelamento entre os pesos que chamou a atenção do público nos primórdios do Ultimate Fighting Championship (UFC). No evento, que reúne diversas artes-marciais no octógono, um dos filhos de Hélio Gracie, Royce, de 77 quilos, derrotou o adversário com 95 quilos, por finalização.

A partir daquele momento, diz a reportagem, o estilo se popularizou, se tornou um dos alicerces do MMA moderno (mixed martial arts) e “passou a ser praticado em centenas academias nos EUA”, onde desde então é conhecido como o “Brazilian” Jiu-Jitsu.

Marcus Soares, no centro da imagem. (Fonte: Facebook)

“O jiu-jitsu japonês engloba mais a parte de defesa pessoal, já o estilo brasileiro desenvolveu a luta no chão”, explica Marcus Soares, que chegou em Vancouver em 1997 e, segundo ele, fundou a primeira academia de BJJ em Vancouver.

“O jiu-jitsu que eu represento, da linha do professor Carlson Gracie, é o jiu-jitsu que, baseado em meus quase 50 anos de experiência, é o mais eficiente, voltado para a defesa pessoal e também competição” ressaltou Marcus Soares, em entrevista ao Jornal Brasil Vancouver.

O crescimento exponencial do esporte na Metro Vancouver

“A popularidade do jiu-jitsu aumentou muito desde o primeiro The Ultimate Fighter”, o reality show que impulsionou o próprio UFC, lembra Marcus Soares. “A exposição na mídia é muito importante para aumentar a popularidade de um negócio hoje em dia” observa Soares, que administra três academias na Metro Vancouver. Desde 2017, o número de alunos da Marcus Soares Brazilian Jiu-Jitsu dobrou na região.

Rodrigo Carvalho, diretor da Gracie Barra para o oeste do Canadá, concorda que esta associação por vezes traz benefícios ao jiu-jitsu, quando programas de TV sobre MMA, por exemplo, fazem referência ao esporte brasileiro, mas por outro lado, há um aspecto negativo, devido à violência em algumas lutas, que não representam o que de fato é ensinado nas academias.

Rodrigo, que é natural de Boa Vista, Roraima, chegou ao Canadá em 2009 e inaugurou a primeira franquia oficial Gracie Barra na Main Street, em 2012. Desde então, a rede de academias vem crescendo exponencialmente, com um total de 13 filiais na Metro Vancouver, além de uma unidade em Whistler.

Rodrigo Carvalho (Fonte: Gracie Barra)

Desde os charmosos balneários de White Rock e Steveston, passando pelos enormes subúrbios de Burnaby e Langley, não há praticamente nenhuma região sem a presença de uma Gracie Barra em Vancouver – a maioria operada por imigrantes brasileiros.  

“O grande boom aconteceu nos últimos cinco anos, com a abertura de oito escolas em BC” conta. Ao todo, são cerca de 2,400 alunos matriculados nas academias Gracie Barra da província. Rodrigo é o proprietário de três delas – em Main Street, Kitsilano e Burnaby.

Rodrigo atribui o crescimento das academias Gracie Barra ao processo de capacitação e suporte aos instrutores e futuros franqueados, além de um retorno financeiro considerado rápido aos novos proprietários.

A sinergia com a comunidade brasileira: “Quando a gente se conhece, fica mais fácil de ajudar um ao outro”

Fonte: Gracie Barra

“Representamos o nosso país, mas também estamos inseridos na sociedade canadense” disse Rodrigo ao Jornal Brasil Vancouver, quando perguntado sobre o papel da Gracie Barra como uma instituição brasileira no Canadá. “Eu acredito que chegamos em um ponto de equilíbrio, com muitos brasileiros, mas sem esquecer dos demais alunos” ressalta Rodrigo. A conexão com o Brasil está presente através dos professores, na maioria brasileiros, de nossa bandeira, e a conexão com a família Gracie, os precursores do jiu-jitsu. Cerca de 10 a 15 por cento dos alunos da Gracie Barra são brasileiros, proporção similar à da Marcus Soares Brazilian Jiu-Jitsu.

“Os brasileiros em geral quando vem para o exterior procuram formas de se conectar com o Brasil. Então a feijoada, a coxinha, o pastel ajudam neste sentido. E com o jiu-jitsu ou a capoeira não é diferente” aponta o gestor da Gracie Barra Main Street. “Mesmo com as aulas em inglês, o contato com outros brasileiros faz o aluno se sentir mais em casa” conta.

Sobre a comunidade, Rodrigo conta que tem acompanhado o crescimento do número de compatriotas em Vancouver e ressalta o perfil qualificado do imigrante brasileiro em BC – o que é ruim para o Brasil, pela perda de valores – mas é bom para o Canadá. Além disso, Rodrigo acredita que a comunidade poderia ser mais unida, visando uma coletividade brasileira mais forte. “Quando a gente se conhece, fica mais fácil de ajudar um ao outro” completa.

Marcus Soares também gostaria de ver uma comunidade brasileira mais unida, talvez em parceria com o Consulado. “Nós transmitimos um pouco da cultura brasileira e do Brasil para os canadenses, assim como faz a capoeira” ele observa. “Já levamos mais de 20 alunos canadenses para conhecer o Brasil e treinar jiu-jitsu” pontua. “Quem sabe o Consulado possa dar uma força para quem representa uma arte marcial do Brasil e divulga o país no exterior?”.

Marcus observa que, devido às dimensões da Lower Mainland, os frequentadores de suas academias normalmente vivem ou trabalham no entorno do local, mas frisa que possui um preço especial para atrair os brasileiros.  

Mulheres e crianças se destacam na prática da “arte suave” do jiu-jitsu

Fonte: Gracie Barra

Além de buscar praticar um esporte, “as mulheres valorizam o aspecto de defesa pessoal que o jiu-jitsu proporciona” analisou Layelli Abou Chahine, instrutora e coordenadora de programas da Gracie Barra. “Mesmo o Canadá sendo um país extremamente seguro, eventos isolados às vezes despertam nas pessoas um interesse repentino em buscar formas de se proteger de situações de risco”, observa Rodrigo Carvalho. “Como aqui normalmente a agressão é sem armas, as chances de defesa pessoal são maiores” ensina.

O número de crianças também vem crescendo entre os praticantes. Segundo Rodrigo, “o jiu-jitsu ensina o aluno a se defender sem agredir o agressor, através de seu poder de finalização, o que é um diferencial do esporte que agrada aos pais.”.

Não por acaso, o jiu-jitsu é conhecido como “a arte suave”. Segundo o site Kimono, esta denominação surgiu por conta da flexibilidade de seus praticantes e da suavidade de seus golpes, que prevalecem frente à força e aos ataques mais bruscos de outras artes marciais.

“O que é bonito na nossa escola é ver o pai, a mãe e os filhos treinando juntos. Esse é o nosso objetivo” disse com entusiasmo Layelli.

Pai de Manuela, de 8 anos, o brasileiro Rafael Martins inscreveu sua filha na filial de White Rock da Gracie Barra porque, segundo ele, o jiu-jitsu é um esporte completo, pela filosofia de defesa pessoal, além da localização próxima à sua casa. “O fato do esporte ser brasileiro também pesou a favor” lembra.

Rafael diz que a jovem Manu fez bons amigos na escola, elogia o ambiente familiar e diz que a prática do jiu-jitsu faz a criança aprender a dosar sua própria força, ganhar mais equilíbrio e precisão.

Rafael, que está no Canadá desde 2016, também é praticante do esporte e diz que o jiu-jitsu é uma ótima forma de exercício e serve para aliviar o estresse do trabalho: “o ambiente é bem descontraído” disse.

Diretório da Comunidade: Jiu-Jitsu em Vancouver

Confira no diretório de serviços da comunidade brasileira no Jornal Brasil Vancouver o contato para as academias de jiu-jitsu e outras modalidades esportivas. 

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