Entrevista: Oficina Curumim completa 10 anos educando crianças da comunidade brasileira em Vancouver

Organização recebeu a Ordem do Rio Branco este mês do governo brasileiro, em reconhecimento pelos serviços prestados. Conheça mais sobre esta importante organização comunitária, nesta entrevista exclusiva com os representantes da Oficina Curumim.

Crédito: Oficina Curumim / Divulgação

Criada a partir da demanda em comum de pais da comunidade em busca de atividades em português para os pequenos brasileiros em Vancouver, a organização brasileira sem fins lucrativos Oficina Curumim completou este ano uma década de existência.

Com atividades semanais na Mount Pleasant Neighbourhood House, a Oficina Curumim oferece aulas para crianças desde os 6 meses de vida, até 12 anos de idade, em um ambiente que fomenta a cultura brasileira, além de estimular o desenvolvimento da língua portuguesa entre seus participantes.

Em reconhecimento pelos serviços prestados aos brasileiros na região, a Oficina Curumim foi agraciada este mês pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil com a Ordem do Rio Branco.

Para conhecer mais sobre este importante trabalho, o Jornal Brasil Vancouver entrevistou Simone Quessada de Faria Santos, Coordenadora Pedagógica e Silvana Dunham da Costa, Presidente da Oficina Curumim.

JORNAL BRASIL VANCOUVER: De onde surgiu a ideia de criar a Oficina Curumim?

OFICINA CURUMIM: Tudo começou em outubro de 2012, quando famílias brasileiras se reuniram com o intuito de fazer atividades educativas, em português, com seus filhos, a partir de uma conversa através de mídias sociais.

Crédito: Oficina Curumim / Divulgação

JBV: Algumas informações básicas sobre a Oficina. Quais as faixas etárias das crianças e jovens que a Oficina atende em suas salas de aula? Qual os horários e dias dos encontros?

OC: Temos sete turmas na faixa etária de seis meses a 10 anos. Neste próximo ano, vamos inaugurar mais um grupo, na faixa de 9 a 12 anos. Nossos encontros são aos domingos, entre 10:00am e meio-dia*.

JBV: Entre pais, professores e voluntários, qual é a estrutura e como funciona a Oficina Curumim?

OC: A coordenadora, professores e assistente administrativa são funcionários. Temos também voluntários-assistentes em sala de aula, além de pais que são voluntários na biblioteca e um grupo de eventos e apoio. A diretoria, também composta por pais voluntários, é eleita anualmente em assembleia.

JBV: Como é a participação e importância dos pais na organização e dia a dia da Oficina Curumim?

OC: As famílias são muito importantes para a Oficina Curumim. No dia a dia, os pais ajudam como voluntários na biblioteca, nos eventos e às vezes, até em sala de aula, com apresentações sobre um tema específico, contando histórias ou até conduzindo brincadeiras. E como citado anteriormente, os pais também fazem parte da diretoria da instituição.

No cotidiano das crianças, assim como na jornada de aprendizado, a participação dos pais é fundamental. Manter o uso do português em casa através de leituras, brincadeiras, audiovisuais e consistência na conversação é essencial para incentivar a língua portuguesa e a conexão com o Brasil.

JBV: Além das mensalidades pagas pelas famílias, de onde a Oficina Curumim obtém recursos? Existe algum subsídio do governo do Canadá ou mesmo do governo brasileiro?

OC: Não contamos com nenhum subsídio contínuo. Já recebemos ajuda financeira do Consulado-Geral do Brasil (e somos muito gratos por isso) baseado em propostas e projetos onde fomos convidados a enviar – ou apresentamos para consideração – quando existem programas específicos do governo brasileiro de fomento à cultura ou uso de português como língua de herança no exterior.

JBV: Qual é o objetivo das aulas e atividades na Oficina Curumim? Ensinar a língua portuguesa, difundir a cultura brasileira – ou ambos?

OC: Não usamos o termo “ensinar” a língua portuguesa, e sim, incentivar e estimular o uso da língua de herança e valorizar a cultura brasileira. A Oficina Curumim é um espaço de desenvolvimento da língua e cultura, além de proporcionar um ambiente de troca e amizade entre as crianças e as famílias.

JBV: Como são as atividades da Oficina Curumim? Como é um dia de aula para os jovens participantes?

OC: As propostas das atividades são pautadas a partir de um tema sugerido pelas crianças ou pelas famílias e equipe pedagógica. Além disso, o espaço do centro comunitário onde atuamos é todo customizado. Por exemplo, as paredes do local se transformam com a bandeira e mapa do Brasil, cartaz com os aniversariantes, quadro de nomes, etc. – tudo para acolher os pequenos ‘curumins’ e fomentar vivências significativas em nossas “oficinas de língua e cultura”.

Nossos encontros também incluem muita conversa e estímulo ao idioma, além de jogos, brincadeiras, músicas, histórias, artesanato e atividades temáticas envolvendo leitura e escrita. Os temas incluem a herança familiar e a cultura brasileira.

JBV: É possível supor que crianças com diferentes níveis de conhecimento da língua portuguesa compartilhem as mesmas aulas na Oficina Curumim. Como os professores lidam com esta disparidade durante as atividades? 

OC: Sim, temos diferentes perfis de falantes da língua. O que fazemos é acolher os idiomas que a criança traz e estimular, de forma lúdica, o português.

JBV: Quantas crianças ao todo, aproximadamente, já passaram pelas atividades da Oficina Curumim desde 2012?

OC: Aproximadamente 800 crianças.

JBV: O número de brasileiros na região tem crescido bastante, segundo dados oficiais. Como este aumento se refletiu em sala de aula, na Oficina Curumim? Quantos alunos por domingo a Oficina tinha há cinco anos (2017), por exemplo, em comparação com o que possui hoje em dia?

OC: Começamos com 15 crianças em 2012, ainda em Coquitlam. Quando mudamos para o local atual, em 2013, tínhamos 20 crianças. Em 2017, o número de inscritos chegou a 80 crianças. Agora, estamos com 130.

JBV: Quais os planos da Oficina Curumim para prospectar e trazer mais crianças brasileiras para dentro de suas salas de aula?

OC: Vamos investir novamente em uma sala para as crianças de 9 a 12 anos, que havia sido fechada em 2020. Além disso, agora chegou o momento de implementar um projeto piloto com uma abordagem STEAM para esta faixa etária.

Também continuaremos com o projeto “Oficina Itinerante” em Vancouver e região metropolitana. E ainda seguiremos utilizando nossas mídias sociais, para que todos possam conhecer e apoiar nosso trabalho.

A cada semestre, nos empenhamos para trazer cada vez mais famílias brasileiras para a Oficina Curumim. Porém, infelizmente, ainda existe uma alta rotatividade entre os participantes, quando o trabalho junto às crianças deveria ser contínuo e constante.

Crédito: Oficina Curumim / Divulgação

JBV: Devido aos altos preços de imóveis em Vancouver, a tendência entre jovens famílias é viver nos subúrbios, nos arredores da cidade. Para alcançar este público, a Oficina Curumim tem planos de expandir sua área de atuação para outras regiões da Metro Vancouver? 

OC: Por enquanto, vamos seguir levando a “Oficina Curumim Itinerante” para as outras cidades nas cercanias de Vancouver.

JBV: A Oficina Curumim mantém algum tipo de intercâmbio de ideias ou boas práticas com outras organizações brasileiras similares no Canadá, Estados Unidos ou outros países? Existe algum fórum internacional organizado com este intuito?

OC: Temos contato com várias iniciativas espalhadas pelo mundo. Há um mapeamento que foi realizado por uma organização não governamental em 2020, registrando 171 iniciativas sem fins lucrativos, como é o caso da Oficina Curumim, todas unidas em benefício do português como língua de herança. Também já enviamos representantes para fóruns e conferências educacionais nos Estados Unidos e na Europa.

JBV: Quais são os planos e prioridades da Oficina para os próximos anos?

OC: Como comentamos, estamos focados em implementar um projeto piloto com a abordagem STEAM para crianças de 9 a 12 anos, com início em janeiro de 2023, e continuaremos com as turmas fixas na Oficina Curumim e as atividades itinerantes.

Também estamos avaliando realizar um projeto-piloto de um acampamento de verão (“summer camp”) em português, com início em meados de 2023.

JBV: Qual é o recado final para os pais considerando inscrever seus filhos na Oficina Curumim?

OC: Que a família brasileira possa perceber o quão importante é manter-se envolvido com sua língua e cultura, e nutri-las junto aos seus filhos e filhas. Estamos aqui para apoiar todas as famílias nesta jornada, proporcionando um espaço de troca, conexão e afeto com o português, nossa língua de herança.

*As inscrições para o próximo período de aulas já estão abertas. Para mais informações, horários das aulas, mídias sociais e contato, acesse a página da Oficina Curumim no diretório do Jornal Brasil Vancouver.

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